Antigamente, essa doença era cercada de muitos estigmas e medos. Hoje, sabemos que ela tem cura e tratamento gratuito. Mas o que o neurologista está nisso? Não é uma doença da pele?
Pois é! Muitas vezes, associamos a hanseníase apenas a alterações visíveis na pele, mas existe uma apresentação chamada Hanseníase Neural Pura. Ela é “silenciosa” visualmente, mas pode causar sintomas intensos e incômodos nos nervos e é aí que o neurologista é importante!
Vamos conversar um pouco sobre isso e entender como o nosso corpo dá sinais de alerta?
O que é a Hanseníase Neural Pura?
A hanseníase é causada por uma bactéria, o Mycobacterium leprae. Na maioria dos casos, ela afeta a pele e os nervos. Porém, na forma Neural Pura, a bactéria ataca exclusivamente os nervos periféricos (aqueles que levam informações do cérebro para os braços, pernas, mãos e pés), sem deixar marcas visíveis na superfície do corpo.
Por não ter as manchas características, o diagnóstico pode ser um desafio e, às vezes, demora para ser confirmado, pois os sintomas podem ser confundidos com outras condições, como tendinites ou até problemas de coluna. Por causa disso é fundamental você ter acesso a alguém que realmente procure entender seus sintomas e procurar a real causa do que está ocorrendo com você.
Quais são os principais sintomas?
O corpo fala através da sensibilidade e da força.
Dor Neuropática: É descrita como uma dor em ardor, queimação ou “choques”, que pode ser constante.
Alteração de Sensibilidade: Sabe aquela sensação de dormência ou formigamento? Na hanseníase neural, é comum perder a sensibilidade em áreas específicas, como o dedo mínimo da mão ou a sola dos pés. Isso é perigoso, pois a pessoa pode se queimar ou se machucar sem sentir.
Fraqueza Muscular: Com o tempo, a inflamação nos nervos pode deixar os músculos fracos. A pessoa pode sentir dificuldade para segurar objetos, abotoar uma camisa ou realizar movimentos finos de costura e limpeza.
Atrofia: Em casos mais avançados, pode ocorrer o afinamento dos músculos (atrofia), especialmente nas mãos (nas regiões da palma) e nos pés.
Como é feito o diagnóstico?
Como não dá para ver a doença “a olho nu” na pele, o médico neurologista precisa de uma investigação detalhada.
Além do exame clínico — onde ele testa seus reflexos e força —, um exame muito importante é a Eletroneuromiografia (ENMG). Esse exame avalia a saúde dos nervos e músculos, conseguindo detectar se há falhas na condução dos impulsos elétricos, o que sugere o comprometimento dos nervos pela bactéria. Pode-se ainda lançar mão de exames de imagens dos nervos do corpo. Importante fazer os exames em locais apropriados, pois nem todo local tem experiência e treinamento, especialmente em ultrassonografia de nervos. Fale com seu médico.
Existe tratamento?
Sim! A boa notícia é que a hanseníase tem cura. O tratamento é feito com antibióticos (poliquimioterapia) fornecidos gratuitamente pelo SUS, geralmente por um período que varia de 6 a 12 meses.
No entanto, é fundamental iniciar o tratamento o quanto antes. Mesmo após a cura da infecção (quando a bactéria morre), algumas sequelas podem permanecer.
Muitas pessoas continuam sentindo dores ou fraqueza mesmo após o fim do tratamento antibiótico. Nesses casos, o cuidado continua com:
Medicamentos para controle da dor crônica.
Fisioterapia para recuperar a força e prevenir deformidades.
Cuidados constantes para evitar machucados nas áreas dormentes. Viver bem é possível
Receber um diagnóstico de uma condição nos nervos pode assustar, mas o conhecimento é o seu maior aliado. Se você sente dores inexplicáveis em queimação, choques ou percebe que suas mãos estão ficando mais fracas ou “magras”, procure um médico.
O diagnóstico precoce evita que os danos nos nervos se tornem permanentes. E lembre-se: com o tratamento adequado e reabilitação, é possível adaptar a rotina e manter a qualidade de vida.
Você não está sozinho nessa jornada!


